sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

POEMA A UM AMIGO

                            ...

Vivemos muitas jornadas percorrendo os montes,
Buscando exercício e as perdizes bravias.
Bebíamos os dois água no chafurdo das fontes,
Agora, sobram apenas recordações desses dias.

Foi naquele bosque sombrio, sinistro e denso,
Que a fera arremeteu, um javali feio e torto.
E veio a ira, o desespero, e um adeus imenso,
Acabava de perder um amigo, estavas morto.

Agora, quando a custo volto àqueles montes,
Não me movimento da mesma maneira.
Já não bebemos água das mesmas fontes,
Nem comemos o farnel da mesma lancheira.

                        ...

Ao regressares com a perdiz ferida,
Que se acoitara na grande silveira,
Beijei-te, como a uma pessoa querida,
Retribuindo uma afeição verdadeira.

Quando me afoitei na torrente fluvial,
Entraste em pânico e acudiste,
Com a dádiva da amizade de animal,
Que entre os homens já não existe.

                     
                            ...


Aristides B.Victor
In Poiesis, volume XX, Editorial Minerva.


 

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