Se
desejarmos assistir a um espetáculo que parece obra de um Deus que se furta
aos nossos olhos, devemos percorrer o planalto que começa em plena EN 2, um pouco
antes das Cabeçadas – Góis, escolhendo o momento em que o Sol está quase a
nascer. Ao deixarmos esta localidade em direção a Pampilhosa da Serra, a meio
de uma curva suave para a esquerda, junto à Portela do Vento, para além de
assistiremos a uma transição brusca, da noite para o dia, depara-se-nos de
frente, lá ao longe, para Oriente, parecendo erguer-se do Fundão, um fragmento
maravilhoso do Céu, de uma beleza indescritível, retábulo que não deve ter sido
criado por deuses pagãos. Jamais pintor algum terá tentado a sua reprodução, não
por falta de criatividade, mas por temer praticar uma heresia e provocar o
furor divino. (diz-se que nunca homem algum poderá sobrepor-se a Deus).
O Sol não nasceu ainda,
mas lá no horizonte, a Leste, vêem-se as serras negro-azuladas. Por detrás da
cordilheira, uma luz doce vai surgindo, matizada de um vermelho quase púrpura e
de um azul-escuro, riscado em linhas paralelas irregulares, como se algum ser
misterioso quisesse lembrar as nossas imperfeições.
No Inverno, o círculo
luminoso e avermelhado que precede o Sol parece anunciar-nos ainda mais frio.
Mas à medida que o Sol se vai erguendo a imagem das serras e da luz inunda-nos o
espírito e diz-nos que, embora a nossa mente e o nosso coração não consigam
abarcar os mistérios da vida, uma nova seiva vem ao nosso encontro
obrigando-nos a entoar um hino de louvor a um Deus desconhecido.
Estendendo-se pelos
vales, onde as serras, encabritando-se, iniciaram noutros tempos a subida em
direção ao firmamento, há um nevoeiro leitoso, debaixo do qual duendes
enfeitiçados estarão a espreitar o nosso deslumbramento e a nossa respiração
ofegante.
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