Quando me afoitei na torrente fluvial, Entraste em pânico e acudiste, Com a dádiva da amizade de animal, Que entre os homens já não existe.
sexta-feira, 1 de maio de 2015
quinta-feira, 23 de abril de 2015
DESERTIFICAÇÃO
Em
cada dia que passa, o interior de Portugal vai ficando entregue às espécies
daninhas, animais e vegetais, sem que os sucessivos governos tentem inverter a
situação. O trabalho de sucessivas gerações, desbravando a terra crua e
transformando a paisagem, vai sucumbindo de forma irreversível, obedecendo a
toda uma conjuntura de abandono cimentado no isolamento. Alguns lugares estão
desertos e noutros só lá vegetam penosamente os mais velhos, cujo fim estará
próximo. Mais tarde, depois de tudo isso acontecer a questão só poderá dizer
respeito aos arqueólogos e historiadores.
domingo, 19 de abril de 2015
sexta-feira, 3 de abril de 2015
sexta-feira, 13 de março de 2015
sábado, 7 de março de 2015
quarta-feira, 4 de março de 2015
REENCONTRO COM VELHOS AMIGOS
Naquele dia,
Carlos Serra chegou ao cantinho da aldeia de origem um pouco depois do nascer do sol e logo
que se ataviou optou por um passeio de manutenção aplicada. Uma caminhada pelo
monte, em passo rasgado, que não passava de uma forma simples de exercitar o
físico e a mente, saboreando o convívio com a natureza agreste. Sempre que
a vida lho permitia, fazia uma pausa nos seus afazeres quotidianos e repetia a viagem ao
reencontro de velhos amigos: campos, riachos e serranias escarpadas. Os seus níveis
de colesterol estavam um pouco descontrolados e havia que tomar alguns cuidados
para contrariar o sedentarismo que levava na cidade.
Em cada dia que
passa, a desertificação vai contribuindo, de forma irreversível, para alterar a
paisagem serrana. Assim, sob um cenário em que muitos terrenos de semeadura se
encontravam ocupados por vegetação selvagem, enveredou por um trilho de cabras agora utilizado, quase em exclusivo, por raposas, veados e javalis. Às
primeiras passadas apercebeu-se de que não iria ser fácil desbravar o caminho repleto de arbustos daninhos que lhe surgiam pela frente, mas continuou mais determinado
do que nunca, pronto a percorrer os cerca de cinco quilómetros do percurso a que
se propusera.
Enquanto se
deslocava ao longo de um velho riacho, ladeado por courelas que outrora foram o
sustento de muitas gerações, usufruiu da companhia de um milhafre que, pairava
no ar, a baixa altitude, descrevendo círculos suaves de observação. Buscava na
distração de um qualquer exemplar das espécies cinegéticas menores a sua refeição.
Contudo, à medida que o tempo vai passando, será cada dia mais difícil encontrar
presas para a sua dieta. O abandono das terras de semeadura vai contribuindo para
o desaparecimento das espécies de que aqueles predadores se alimentam.
Os velhos
amigos de Carlos Serra eram toda àquela natureza verdejante,
salpicada, aqui e acolá, por pequenos povoados, onde o sossego, ar puro e águas
cristalinas, ainda iam resistindo à poluição e à agitação dos tempos modernos.
Era naquela paisagem arrebatadora, carregada de misticismo, com marcas de
muitos séculos de história, que experimentava um sentimento de liberdade
inigualável, contrastando com a constante inquietude própria do bulício da
cidade. Todo aquele espaço ondulado acessível ao olhar, que se estendia por
montes e vales, lhe era familiar. Por onde quer que andasse não parava de
esbarrar em recordações de infância recheadas de peripécias. Memórias do tempo
de criança onde fora crescendo em liberdade e a par de vivências felizes,
também, enfrentara adversidades que viriam a constituir uma sã aprendizagem para
a vida.
Foi naquele
cenário que aprendeu a valorizar as coisas simples da vida e a pacatez do
ambiente rural sustentado no trabalho, na moralidade e no respeito em
sociedade. Entre outras coisas, construiu os seus próprios brinquedos apoiado
na imaginação e livre criatividade. Aprendeu a trabalhar a terra bem como o
tempo e métodos de semeadura das diversas espécies agrícolas. Também aprendeu a
distinguir as constelações que cintilavam no firmamento, visíveis, em noites de
breu. Na água fria das ribeiras, onde o piedoso lamento dos moinhos de moer
o pão se misturava com o eterno sussurro da corrente, aprendeu a nadar e a
pescar as várias espécies piscícolas que por ali habitavam. Foi naquele lugar
que aprendeu a distinguir as diversas espécies cinegéticas que não paravam de
danificar as culturas cerealíferas. Foi também ali que frequentou a escola pela
primeira vez.
Embora, tudo isso, já fizesse parte de um passado
distante, no seu espírito, essas memórias, continuavam tão presentes como se o
tempo, entretanto, não tivesse passado. Agora, visitava as serranias sempre que
podia, como que atraído por uma força superior que na realidade não passava de
um rasgo de saudade daqueles tempos idos.
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