Ainda há quem utilize os alambiques, mas já são
poucos. Só alguns, mais velhos, vão resistindo à erosão provocada pela
desertificação e pelo tempo que não para de nos surpreender. Até porque a produção
de aguardentes é uma arte muito trabalhosa, requer muita paciência e conhecimentos
de vária ordem, tanto na fermentação como no fabrico. Sem esse conhecimento, que
era transmitido de geração em geração, não será, naturalmente, possível obter um
produto destilado de excelente qualidade. Principalmente nas aguardentes que
obrigam a uma elaboração muito cuidada como é o caso do medronho e do mel. Quanto
ao medronho, para além dos cuidados de fermentação e destilação, a qualidade depende
também da apanha de um fruto maduro.
Com o abandono das terras de semeadura, depois da
década de sessenta, do século passado, as destilarias artesanais foram desaparecendo
a par dos seus proprietários que rumaram a outras paragens ou simplesmente
chegaram ao entardecer da vida. Até então, embora clandestinas, faziam parte da
identidade cultural de muitas aldeias do interior de Portugal, onde as diversas
variedades de aguardentes de alambique eram procuradas pelos bons apreciadores.
Qualquer aldeão que possuísse uma vinha, por mais pequena que fosse, só por
falta de condições logísticas não instalava também um alambique para fabricar a
aguardente de bagaço. No entanto, para além do bagaço, quando tinha tempo
disponível, também se ocupava com outros tipos de aguardente.
A par de toda essa arte, durante a destilação de
aguardentes alguns produtores angustiavam com o receio de virem a ser apanhados
em plena laboração. A destilação em alambiques é alcoviteira. Denuncia
facilmente o produtor. Então, para tentar fugir a isso, muitas vezes a destilação
era feita à noite para iludir a fiscalização que conhecendo de perto a vivência
do povo tentava a todo o custo mostrar serviço.
Hoje, todo esse conhecimento e essa arte popular corre
o risco de se perder, pondo em causa a identidade cultural de toda uma região.